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Professor da UFRR tem livro indicado ao Prêmio Jabuti 2023 

Maurício Zouein é escritor e professor universitário – Divulgação

Vanessa Lima

RORAIMA O professor e escritor Maurício Zouein, paulista residente em Roraima há 49 anos, comemora a indicação de seu livro “A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia (1865 – 1908)”, ao Prêmio Jabuti 2023, maior premiação da literatura brasileira, na categoria Ciências Humanas.  

Com 140 imagens raras e outras até inéditas da Amazônia do período de 1865 a 1908, a obra do professor doutor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) já ultrapassa o número de 2.000 exemplares vendidos em todo o mundo.  

O livro foi publicado em abril de 2022 pela Editora Telha, do Rio de Janeiro, com selo da editora da UFRR. E o lançamento local ocorreu no Teatro Municipal de Boa Vista. São 270 páginas com fotografias, cartões-postais, pinturas e bibliografia fruto de pesquisas em livros datados do ano de 1.800 em diante, alguns da coleção pessoal do escritor. 

“A pessoa que for ler o meu livro vai ter uma relação direta com documentos da época. Não é apenas uma interpretação, mas é mostrar de fato como era pensado o cidadão nesse período”, destaca Zouein. Através de imagens, o autor analisa as relações sociais, políticas, econômicas e culturais da antiga Amazônia. 

Livro traz 140 imagens raras e outras inéditas da Amazônia, do período de 1865 a 1908 – Divulgação

Em suas pesquisas, o autor observou que a relação das fotografias produzidas na Amazônia revela um processo civilizador que se desinteressa pelas comunidades locais. As imagens antigas mostravam ‘a pobreza na condição de ser civilizado e o exótico na condição de ser explorado’.  

A obra é resultado de 40 anos de estudos. Em 1983, quando esteve no Exército, Zouein teve o primeiro contato com as comunidades indígenas Yanomami e Yekuana. Ele lembra de ter levado consigo para a selva amazônica um livro de Charles Sanders Peirce, considerado o “pai da semiótica”, que o despertou para a metodologia que trabalha até hoje. 

Outra semente que resultou na criação de seu livro foi a convivência com a fotógrafa Cláudia Andujar, durante o período em que trabalhou na Comissão de Criação do Parque Yanomami (CCPY). Zouein conta que aprendeu com a renomada profissional a entender o processo da produção fotográfica. 

As imagens e as comunidades indígenas permearam toda a vida acadêmica do autor. E foi no doutorado em História, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que construiu a tese que é a base de seu livro: a ideia de civilização nas imagens da Amazônia, aprovada com elogios e indicada para publicação. 

O processo de produção do livro durou cerca de dois anos. Parte das imagens mais importantes da obra, e que marcam o início do período estudado pelo autor, foram liberadas para publicação pela Universidade de Havard, nos Estados Unidos. Trata-se das primeiras imagens produzidas na Amazônia, em 1865. 

Fazenda Boa Vista e Matriz Nossa Senhora do Carmo – Coleção particular/Divulgação

O lançamento do primeiro álbum com 81 imagens em série sobre Roraima, em 1908, marca o fim do período compreendido pelo livro de Zouein. Chamado de “O Vale do Rio Branco”, o livro foi produzido durante uma viagem do então governador do Amazonas, Antônio Constantino Neri, e do fotógrafo alemão, George Huebner, pelo Rio Branco. O álbum ficou pronto em 1906, mas só foi divulgado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro, quando foi premiado. 

“O que eu percebi durante esse período é que as imagens que eram produzidas na Amazônia traduziam a ideia que os poderes constituídos tinham de processo civilizatório. Projeto de progresso e civilização se confundiam naquela época. Então nós temos as fotografias de edificações. Na época da borracha, tanto Amazonas quanto Pará queriam provar qual era o lugar mais civilizado. Concorriam até o título de Paris dos Trópicos”, pontuou Maurício Zouein. 

O outro aspecto apontado pelo escritor é que nas imagens da antiga Amazônia, o cidadão comum quase não aparecia. Quando isso acontecia, era em uma situação de pobreza ou de uma classe menos abastarda que os poderosos da época. Os indígenas e os negros também apareciam na mesma situação ou na condição de exótico. Era mostrada ‘a pobreza na condição de ser civilizado e o exótico na condição de ser explorado’.  

Para Zouein, a indicação de sua obra ao Prêmio Jabuti, que anunciará em data ainda a ser divulgada os vencedores da 65ª edição, já é uma grande conquista. Ele destaca que, além da qualidade do trabalho desenvolvido, o fato de o livro tratar sobre a Amazônia, em um período em que está se dando importância para essa parte do país e às pessoas que aqui moram, foi um dos fatores para a indicação ao prêmio. 

“Eu moro aqui em Roraima, fui aluno do curso de Comunicação Social da UFRR. Um ex-aluno que está mostrando que estudar aqui não significa que você não tenha condições de prosperar com o trabalho”, frisou Maurício Zouein. 

Escritor indígena de Roraima é destaque internacional

Capa de “Fogo, Gente!”, de Cristino Wapichana com ilustrações de Graça Lima, lançado pela Leiturinha – Divulgação

O roraimense Cristino Wapichana é um músico, compositor, cineasta, contador de história e escritor indígena premiado. Suas diversas obras colaboram para a difusão da cultura indígena pelo mundo. Um de seus livros mais recentes é o “Fogo, Gente!”, lançado pela Leiturinha. 

Ele também é autor do livro “A Boca da Noite”, traduzido para dinamarquês e sueco, vencedor da Estrela de Prata do Prêmio Peter Pan 2018, concedido pela International Board on Books for Young People (IBBY), da Suécia, e do Prêmio FNLIJ 2017 nas categorias Criança e Melhor Ilustração. 

Foi escolhido pela Seção IBBY Brasil para figurar a Lista de Honra do IBBY 2018. Wapichana recebeu diversos outros prêmios, como o Prêmio Jabuti 2017 (3° lugar), no qual também foi finalista em 2019, o Selo White Ravens – Biblioteca de Munique 2017, a Medalha da Paz Mahatma Gandhi 2014 e o Selo da Cátedra Unesco 2022.  

Morando atualmente em São Paulo, Wapichana também foi escolhido patrono da Cadeira 146 da Academia de Letras dos Professores (ALP) da cidade paulista. Alguns de seus livros foram selecionados para o clube de leitura da ONU 2021.

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