Em Tefé, comunidade do povo Kokama, quase isolada, recebe doações – ©️ Marizilda Cruppe / Greenpeace
Vanessa Lima
AMAZONAS O rio Negro alcançou nesta segunda-feira, 16, a marca histórica de 13,59 metros, o nível mais baixo já registrado em Manaus, capital do Amazonas, em 120 anos. Devido a vazante que atinge a Amazônia Ocidental – composta por Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima, as bacias hidrográficas da região têm registrado níveis abaixo da faixa da normalidade para o período.
O índice, registrado no Porto de Manaus, que monitora o ritmo de subida e descida das águas, ultrapassou a marca de 13,63 metros, atingida em 2010, considerada até então, dentro da série histórica, a maior seca já registrada na capital amazonense.
“Na data de hoje, ultrapassamos essa marca em razão da severidade da vazante em todo o estado. Não só aqui no rio Negro, mas em outros rios também, como é o caso do Solimões, Madeira, Purus e do próprio alto rio Negro. Os níveis estão abaixo da faixa da normalidade em todas essas calhas e próximos dos intervalos das mínimas”, informou Jussara Cury, pesquisadora em geociências do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
De acordo com a pesquisadora, o rio Negro ainda está em recessão, com descidas em torno de 9 a 10 centímetros ao dia. Além da falta de chuva, a região a montante também contribui para o processo de redução da intensidade da vazante. Devido ao tamanho da bacia, há um tempo de resposta para que a contribuição da região a montante (o que vem antes) possa chegar ao rio Negro.
A previsão é de que a vazante continue na região metropolitana do Amazonas até o final de outubro. “Considerando que os rios Solimões e Negro, na região a montante de Manaus, ainda estão em processo de descida, há uma tendência de que a recessão do rio Negro, na capital, continue pelo menos nas próximas duas semanas”, informou Cury.
“Entretanto, os boletins climáticos indicam precipitação na região a montante, como é o caso das nascentes da região de cabeceira antes do Solimões. Então há uma tendência de que os níveis nessa região parem de descer e voltem a subir, o que pode contribuir para que, pelo menos na calha do Solimões, a vazante entre numa fase de estabilidade”, complementou.
A seca que atinge a Amazônia Ocidental está relacionada ao fenômeno El Niño, que reduz as chuvas e intensifica o calor, facilitando também a propagação de queimadas. Manaus, assim como quase todos os municípios do Amazonas, vive uma severa crise ambiental. Desde o final de setembro, a prefeitura decretou situação de emergência na capital. O Governo do Estado também decretou emergência em 50 de seus 62 municípios; 10 estão em alerta, com mais de 451 mil pessoas atingidas.
A cidade também enfrenta uma “onda” de fumaça produzida por queimadas ocorridas na região metropolitana. Na última semana, o ar na capital do Amazonas foi considerado um dos piores do mundo. As altas temperaturas e a estiagem têm afetado ainda a vida dos animais. Milhares de peixes e mais de 140 botos foram encontrados mortos no lago de Tefé, no interior do Estado.
Fotos:©️ Marizilda Cruppe / Greenpeace