Jornalista e professora. Atualmente se dedica ao ensino de línguas, sua verdadeira vocação. É docente da UERR há mais de 10 anos, onde desenvolve projetos para a comunidade acadêmica e para o público externo também.
Da desvalorização profissional à crise na formação dos licenciados
Você já parou para analisar quem são os professores dos seus filhos? Que tipo de formação tiveram? Nos últimos anos, as áreas de licenciaturas vêm enfrentando um esvazeamento nas universidades públicas de todo o país. Os cursos que formam professores são cada vez menos procurados, principalmente em universidades públicas e em cursos presenciais.
Professor, uma profissão desvalorizada no que tange à remuneração, carga de trabalho e reconhecimento. A profissão que forma todas as outras deveria receber o devido valor, incentivo e investimento. Entretanto, o que vemos nos últimos anos é a proliferação de cursos de licenciaturas na modalidade de Ensino à Distância (EaD), com precarização na formação advinda de diversos fatores, dentre eles, a frágil articulação entre teoria e prática. Na verdade, esses cursos oferecem poucas oportunidades de prática profissional, pois até as estruturas dos estágios são falhas. A metodologia das aulas, na sua maioria, limita-se à transmissão de vídeos com os conteúdos apresentados sem debates críticos e sem a devida interação entre professor e aluno.
Outro fator que tem levado candidatos de licenciaturas das universidades públicas e do ensino presencial para as faculdades à distância na modalidade EaD é a facilidade que estas últimas apresentam, com carga horária menor, poucas cobranças de estudo aprofundado e atividades extras, bem como flexibilidade de horários e prazos.
De acordo com reportagem do site G1, de 2012 a 2022 o número de licenciados formados nas faculdades privadas de ensino à distância aumentou de 28 % para 60%, ao mesmo tempo, a qualidade dos cursos estava em declínio, conforme mostra um levantamento da ONG Todos Pela Educação, com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). A reportagem mostra, ainda, que de cada 10 estudantes de licenciatura na rede particular, 9 optam por cursos EaD.
Tal cenário reafirma que as faculdades particulares de ensino à distância atraem cada vez mais alunos para os cursos de licenciatura, enquanto nas universidades públicas a licenciatura está em crise, a cada ano com menos demanda e pouco investimento. Algumas áreas, como física e matemática, apresentam escassez de professores formados em todo o país, o que gera a contratação de docentes sem a formação específica, precarizando ainda mais a educação básica.
Diante de tudo isso, defendo que devemos exigir mais investimento em educação, salários e jornada de trabalho dignos para os professores, mas é necessário cobrar qualificação e excelência; não se contentar com as facilidades das novas tecnologias, do ensino à distância totalmente alheio à realidade da sala de aula.