Pular para o conteúdo

Açaí amazônico: alta no consumo cria oportunidades no mercado roraimense

O consumo do açaí cresce no Estado e ganha novos consumidores

CACAU BASTOS

RORAIMA O açaí é um alimento de origem amazônica, uma pequena frutinha roxa de sabor adocicado que vem ganhando novos apreciadores. Versátil na sua forma de consumo, ora com açúcar, ou não, ora com frutas, cereais e caldas. Há também os que apreciam como sorvete, suco ou licor, por exemplo.

Açaizeiro é o nome da palmeira nativa da região amazônica, que produz o fruto açaí e é encontrada, principalmente no Pará. A palmeira tem um tronco alongado e chega a passar dos vinte metros de altura. Antes dos anos 90, o consumo do açaí era algo mais restrito, pois a polpa retirada da fruta, se deteriora muito rápido. Somente a partir do processamento e do congelamento da polpa, o açaí pode ser enviado para os demais estados, principalmente, nas regiões sul e sudeste.

Segundo uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), o consumo do açaí no Brasil cresceu cerca de 15% ao ano entre 2019 e 2022. Em 2022, o consumo total da fruta no país foi de 1,5 milhão de toneladas, gerando uma receita avaliada em R$ 50 bilhões.

Em Roraima, o consumo de açaí vem crescendo a cada ano. Conforme dados via Google Trens e Twitter Data, entre os anos de 2020 e 2021, a comida ou o lanche delivery mais pesquisado e analisado, entre os roraimenses, foi justamente o açaí.

Pequeno produtor aposta na cultura do açaí – Freepik

No município de Mucajaí, distante há quase 60 quilômetros da capital Boa Vista, via BR-174, encontramos seu Claudomiro Lima Pinheiro, de 78 anos, que decidiu fazer mudas de açaí com cerca de mil caroços que trouxe da Embrapa Belém.

Em 2015, comprou um pequeno sítio, hoje Chácara Mucajaí, e começou a cultivar e processar o açaí. Ao todo, hoje são 170 touceiras, conjunto de ramos da planta, que produziram no ano passado 96 sacas do fruto.

Nesta safra, a expectativa é colher entre 110 e 115 sacas. Seu Claudomiro explica que no verão, por ser mais quente, diminuiu a produção do fruto. “No verão é muito forte o calor, chega a secar o cacho. Por isso precisei abrir um poço para ter sempre água para irrigar os pés de açaí. Ainda este ano a expectativa é abrir um poço artesiano também para melhorar ainda mais a produção”, frisou.

Ele garante que mesmo sendo em pequena escala, consegue uma boa margem de lucro na venda do alimento. “Cada touceira produz cerca de uma saca por ano e com isso consigo produzir entre 30 a 35 litros de açaí por saca. Eu aviso que vou colher e preparar, um dia antes, aí meus cientes compram no dia seguinte”, explica. Ele também cultiva cupuaçu, coco, pequi, manga, bacaba, caju, macaxeira, banana e graviola.

A regionalidade e o sabor marcante da paçoca de carne seca – Gostoso Açaí

Segundo Wilson Oliveira, proprietário das lojas Gostoso Açaí, localizadas em Boa Vista, o açaí é o carro-chefe da empresa e significa 80% do faturamento. Somente a empresa roraimense comercializa 30 toneladas de açaí por mês, sendo 15 toneladas em forma de barra e quinze no ponto frozen.

O novo lançamento na loja especializada de açaí é totalmente voltado a cultura roraimense: agora os clientes podem saborear o açaí com paçoca de carne seca. Oliveira explica que a ideia levou em conta o fato de a paçoca ter se tornado patrimônio cultural e imaterial do município de Boa Vista. “A gente lançou o produto que hoje é o nosso carro-chefe e sucesso na loja”, destaca.

Trazer este ambiente ancestral para as degustações com açaí, foi uma ideia que veio, por exemplo, com a inserção das coxinhas de camarão e caranguejo, que são solicitadas pelo público que gosta da comida paraense.

“Falando das coxinhas, a nossa ideia, é que como tinha muitos paraenses que gostam de experimentar os pratos típicos da região, a gente começou agregar o açaí na tigela, natural adoçado ou não adoçado, colocamos três porções, para entrar naquela pegada mais regional do Pará que é o camarão no alho e óleo, a carne de sol, o charque e farinha. Então a pessoa consegue ter uma experiência, e para ficar com mais cara de paraense, a gente colocou o tacacá e um vatapá”, explica Oliveira, o segredo do sucesso entre a clientela.

Mas independente do prato ser uma comida típica paraense, tem muito roraimense que gosta. “Mais de 60 países no mundo consomem açaí, então não existe nenhum lugar em que o açaí chegou para dar errado. Aonde o açaí chega, é sucesso”, comemora.

De empreendedor, ao maior distribuidor de açaí no Estado – Freepik

“Hoje nós enviamos açaí para todo o estado de Roraima, e até para Guiana e Venezuela. São 150 pontos de venda”, comemora o empresário Wilson Oliveira. Ele explica que o grão do produto não pode ser transportado, então ele é colhido e processado no mesmo dia, no Pará, e só depois de congelado é enviado para Roraima.

“Ele já vem de Belém processado e congelado. No bairro Pintolândia, nós temos o nosso centro de distribuição aonde fica estocado. A gente não trabalha com açaí de Roraima, porque hoje ele é insuficiente para atender Boa Vista”, esclarece.

O desejo de empreender, mudou a vida do empresário. “Cheguei a Roraima em 2004. Trabalhei numa empresa privada durante 12 anos e eu desejava empreender. Em 2016 eu fiz uma viagem para Rorainópolis e durante uma conversa, entendi que poderia começar com a venda de açaí. Só que todo recurso que eu tinha era R$ 5.000,00. O açaí mudou a minha vida, foi uma benção na minha vida, foi um instrumento que Deus usou para me abençoar”, conta.

Para quem pretende gerir o seu próprio negócio, Oliveira sugere a gastronomia. “É o que eu falo sempre, a gastronomia, é o único negócio pequeno, que te faz grande, sem risco, porque na gastronomia só precisa ser gostoso, ser saboroso. Se tem qualidade, a gastronomia acontece muito rápido”, afirma. E o empreendedor sabe o que está falando. Somente em 2017, sua empresa teve um faturamento de mais de R$ 300 mil, com crescimento em 2023 de 122,69%.

+ Notícias Recentes

Publicidade