A história da Terra pode ser contada em etapas ou eras representativas, não apenas de uma cronologia, mas de eventos marcantes que ocorreram ao longo do tempo geológico. Se, em nossas vidas as principais fases são a infância, adolescência, idade adulta e velhice, para o planeta a senilidade ainda não pode ser vislumbrada, pois os vulcões, terremotos e sua permanente rotação, vivenciada todos os dias ao nascer do sol e no crepúsculo, demonstram toda sua vitalidade.
Mas como diz o ditado “Velho é o Mundo”.
Em uma longa trajetória, o planeta experimentou, desde 4,5 bilhões de anos atrás, como é a idade dos planetas do sistema solar, eventos significativos que determinaram sua evolução e de toda vida subsequente. A infância da Terra, no Arqueano, foi turbulenta, muito quente, bombardeada por meteoritos, com vulcões dominando sua superfície e expelindo rocha derretida e exalando vapores tóxicos. Um inferno, pois associado ao fogo “eterno” havia também a formação de grandes acumulações de um metal reluzente, o ouro.
A transição desta fase primordial para a adolescência, durante as Eras do Proterozóico, entre 2,5 a 2,0 bilhões de anos atrás, uma grande transformação ocorreu devido a ação de bactérias que capturaram o ferro e o silício, de origem vulcânica, para formar os imensos depósitos ferríferos como os de Carajás-PA. Neste processo biogênico, o oxigênio foi liberado para atmosfera, tornando a vida possível. Fato consumado, na etapa adulta, durante a Era Paleozóica, há cerca de 600 milhões de anos, houve a “explosão da vida”, com o surgimento de seres marinhos complexos, invertebrados, peixes, anfíbios e plantas terrestres, com paisagens cobertas de florestas, que se materializaram nos depósitos de carvão mineral, encontrados no norte da Europa e fonte de energia para a Revolução Industrial.
Antes de voltar à época das fábricas e chaminés da Revolução Industrial, não poderia deixar de mencionar a Era Mesozóica, com seu supercontinente Pangéia, de clima mais árido e quente, sob o domínio dos dinossauros, até o evento cataclísmico do choque de um meteorito com a Terra, há 65 milhões de anos, que levou ao desaparecimento destes grandes répteis e o fim desta Era, para emergir a ordem dos mamíferos, no Cenozóico.
Para encurtar este conto, o Homem surgiu no período Quaternário, há cerca de 2,6 milhões de anos, e, ao final deste período, no Holoceno, depois da última grande glaciação (há 20 mil anos), começou a deixar uma vida errante, de caçador e coletor, para se fixar na terra, aproveitando uma estabilidade climática favorável ao desenvolvimento da agricultura. Parte desta história ainda está a ser contada no Norte do Brasil, em Roraima, onde abrigos rochosos contém pinturas rupestres desta época, conforme matéria neste site.
O Antropoceno seria a época na qual o Homem e suas tecnologias teriam a capacidade de imprimir mudanças de escala global na Terra. Para alguns cientistas, esta nova etapa do planeta teve início pós revolução industrial, com suas máquinas e fábricas atraindo a população do campo para as grandes cidades, criando o mercado de consumo, além da retirada e queima do carvão para geração de energia. Essa dinâmica de uso de combustíveis fósseis, a extração de recursos naturais abundantes, como os minerais, e uma população crescente ainda perduram, alterando a superfície do planeta, como nunca.
O impacto desta nova era do Homem está na redução da biodiversidade, na alteração no fluxo dos rios, nos rejeitos radioativos e na mudança no clima do planeta, devido a emissão de gases de efeito estufa, com a queima de combustíveis fósseis.
Os depósitos antropogênicos como os lixões e aterros, serão a marca deixada pelo Homem no registro geológico. E a massa de artefatos feitos pela atividade humana ultrapassou a de todos os seres vivos do planeta, em 2020. O que para alguns seria o início do Antropoceno.
As pesquisas para a identificação de marcadores do impacto humano no registro geológico estão em andamento e o alvo são os testemunhos de gelo, da calota polar, que podem ter aprisionado o carbono, expelido pelas chaminés e escapamentos de automóveis, e elementos radioativos das bombas nucleares.
O início do Antropoceno ainda é objeto de muito debate. Porém, o seu final, se for como todas as Eras Geológicas, terá como limite uma extinção em massa da espécie dominante. Será?