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Cavalos lavradeiros correm risco de extinção em Roraima

Cavalo lavradeiro é o animal símbolo de Roraima – Jorge Macêdo

Vanessa Lima

RORAIMA Considerados um dos principais símbolos de Roraima, os cavalos lavradeiros correm o risco de extinção. Dos cerca de 21 mil cavalos que existem na região de lavrado do Estado, a estimativa é de que apenas 3.150 sejam do tipo lavradeiro, mantendo os padrões e características próprias da espécie.

A crescente expansão na agricultura e pecuária em Roraima e o aumento na mestiçagem dos animais, fruto do cruzamento de cavalos de raças melhoradas ou puras com os lavradeiros, têm impactado a cada ano na diminuição da espécie. A falta de políticas públicas é outro fator determinante.

Para o veterinário e pesquisador da Embrapa Roraima, Ramayana Menezes, que há anos realiza estudos sobre os cavalos lavradeiros, é imprescindível a criação de uma associação de criadores do tipo de cavalo, a fim de reduzir o risco de extinção deste importante patrimônio genético e cultural com a implementação de formas de conservação. 

“O cavalo lavradeiro hoje corre um risco muito grande de extinção pelo cruzamento desordenado com outras espécies, a diminuição das fazendas tradicionais e a falta de perspectiva de congregar os criadores para fazer um movimento de conservação da espécie. Atualmente, apenas 15% do universo de cavalos que se multiplicam livres e soltos pelo lavrado atendem ao padrão sugerido do tipo lavradeiro”, observa.

Animais habitam, principalmente, a região nordeste de Roraima – Jorge Macêdo

De acordo com número estipulado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as raças de cavalo que possuem menos de cinco mil fêmeas em reprodução são consideradas em “estado vulnerável”. No caso dos lavradeiros, a estimativa é de que 60% dos 3.150 cavalos existentes sejam éguas em reprodução, o que equivaleria a apenas 1.890 fêmeas.

Até hoje, o lavradeiro não é reconhecido como uma raça de cavalo. “Ele não é de raça e sim ecotipo, que seria um tipo [de animal] daquele ecossistema, no caso, do lavrado roraimense. Não é uma espécie registrada, já que não tem uma associação para determinar as características do animal”, explica Menezes.

A criação da associação possibilitaria a contratação de um técnico responsável por identificar e reunir as características do cavalo lavradeiro, e assim propor ao Ministério da Agricultura o reconhecimento da espécie como uma raça de equino, realizando o registro dos animais.

“Por não ser reconhecido oficialmente como raça, tem pouco valor comercial, motivo pelo qual não recebe a devida atenção como importante recurso genético genuinamente brasileiro”, destaca o veterinário Ramayana Menezes, em uma cartilha produzida sobre “Como identificar o cavalo lavradeiro”, publicada pela Editora da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Atualmente, as comunidades indígenas e pequenos produtores rurais são responsáveis pela conservação e continuidade da espécie de cavalos lavradeiros em Roraima. O maior quantitativo desses animais está concentrado nas regiões de Amajari, Pacaraima, Normandia e Uiramutã.

Lavradeiros são descendentes de cavalos europeus trazidos por portugueses  

Tordilha, castanha, baia e alazã são as pelagens predominantes – Jorge Macêdo

De pequeno a médio porte, com a cabeça relativamente “pesada” e triangular, orelhas pequenas a médias, pescoço piramidal, garupa média e suavemente inclinada, cernelha saliente, dorso e lombo curtos, crina larga e farta e pelagem predominante nas cores Tordilha, Castanha, Baia e Alazã. Essas são as características fenotípicas de um cavalo tipo lavradeiro.

Em 1789, alguns dos cavalos vindos da Europa que chegaram ao lavrado de Roraima, trazidos pelo comandante Lobo D’Almada, acabaram fugindo e foram submetidos a seleção natural, formando um grupo de animais que ficaram conhecidos, inicialmente, como “Cavalos Selvagens de Roraima”.

Os bovinos e equinos foram a base da colonização das extensas áreas com pastagem natural existentes no Estado, conhecidas como campos gerais do rio Branco, savana de Roraima, cerrado de Roraima ou lavrado, daí retirado o termo “Lavradeiro” que depois foi utilizado para batizar os animais que viviam livres e sem contato com o homem.

“Esse cavalo, quando chegou aqui, teve que se adaptar ao ambiente. O lavrado equivale a 17% do estado de Roraima. São 40 milhões de hectares de pastagem nativa com valor nutritivo muito baixo, principalmente na época seca”, detalha o pesquisador da Embrapa Roraima, Ramayana Menezes.

Cavalo lavradeiro é um importante patrimônio genético e cultural de Roraima – Jorge Macêdo

O baixo valor nutritivo da pastagem nativa, o longo período de seca, as áreas encharcadas durante o período chuvoso, as queimadas e a ausência de manejo e de cuidados com os cavalos, proporcionaram que a seleção feita pela natureza formasse um tipo de animal de pequeno/médio porte, adaptado para se reproduzir e desenvolver nestas condições totalmente adversas: o cavalo lavradeiro.

Os animais são descendentes de raças como garrano e andaluz. Há ainda uma participação considerável do puro-sangue inglês na formação do tipo de cavalo, já que Roraima faz divisa com a Guiana, antiga Guiana Inglesa, então colônia da Inglaterra.

Desde 1983, a Embrapa estuda os cavalos lavradeiros e já teve, inclusive, um plantel da espécie para estudo e preservação do animal. De posse das características básicas da espécie, o pesquisador lançou o livro ‘Cavalo Lavradeiro em Roraima’. Atualmente, a instituição realiza o acompanhamento periódico dos animais que vivem nas comunidades indígenas e em fazendas privadas.

Fotos – Jorge Macêdo

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