Falar sobre maternidade é um desafio que aceitei fazer com muito gosto, sei que não será fácil, pois viver o dia a dia é uma coisa, colocar no papel, é outra. Tive o Frederico aos 34 anos, de forma pensada e planejada, então vivi e vivo a maternidade como uma grande dádiva que Deus me permitiu.
Ver o barrigão crescendo, andar que nem uma patinha, era muito gostoso. Por outro lado, todas as grávidas naquele momento, meados de 2015, 2016 viviam a base de muitos medos, quando estava apenas com 9 semanas de gravidez, estourou no Brasil dezenas, centenas e logo depois milhares de casos de crianças com microcefalia. Quem lembra sabe que foi um alvoroço sem igual.
A primeira suspeita sobre o autismo surgiu durante a amamentação, o olhar que chamam de “olhar apaixonado”, aquele que o bebê fica vidrado olhando para mãe, existia, mas percebia também que às vezes, o tempo era mais curto, ou seja, ele não segurava o olhar por tanto tempo. Entretanto, os sinais só ficaram mais evidentes por volta de um ano de idade, balbuciava pouco, não chamava mamãe, utilizava minha mão como ferramenta dele, não apontava e aquela pulguinha que as mães atípicas têm, algo não está se encaixando direito!
Infelizmente no Brasil são poucos os profissionais treinados e com olhar atento as primeiras evidências sobre autismo, tanto que a médica pediatra que acompanhou o Frederico desde os primeiros dias de nascido, achou um absurdo a minha suspeita e só passou os encaminhamentos depois da minha insistência.
A história é longa e prometo abordá-la mais vezes, mas posso adiantar que as terapias iniciaram com um ano e seis meses e o diagnóstico final veio aos três anos, eu já sabia e avisei a todos bem antes disso. Não havia o porquê guardar aquela informação, aliás, o quanto antes soubermos, o quanto antes iniciarmos as terapias, com certeza a janela de oportunidades estarão mais receptivas para um desenvolvimento mais eficaz e significativo.
Sempre fui muito ligada ao meu trabalho, dizem que é coisa de capricorniana, então me desdobrava entre trabalho, filho, marido e casa. Confesso que pouco sobrou da mulher, por mais que precisasse estar sempre arrumada por causa justamente do trabalho. Fui empurrando da forma que dava, ou não dava. Olhar para trás hoje me dá um certo desconforto, mesmo sabendo das motivações. Escutando amigas, confidentes e quase 100% assumiram que fizeram isso também, de uma forma ou de outra, com menor ou maior proporção.
Aí surgem tantos assuntos, como vida profissional depois da maternidade, rede de apoio, terapia, academia, chamar uma amiga para tomar um café, e assim, começar a andar nos trilhos novamente. Algumas mulheres começam logo após o parto, outras alguns anos depois.
Prometo que aqui será um ponto de conversa, de reflexão da mulher e suas milhares de facetas, responsabilidades e das toneladas de cobranças que nos fazem até sorrindo. Minha mãe já dizia, se valoriza menina.