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Livro contará a história do primeiro projeto arqueológico de Roraima

A arqueóloga Edithe Pereira coordena as pesquisas de recuperação de material coletado por Pedro Mentz Ribeiro, na década de 80JPavani

Vanessa Lima

RORAIMA O acervo arqueológico e documental produzido durante o primeiro projeto de arte rupestre na Amazônia e o primeiro projeto arqueológico de Roraima, realizado de 1985 a 1987 pelo professor e arqueólogo Pedro Mentz Ribeiro, está sendo catalogado e organizado para compor um livro sobre o denominado Projeto Roraima.  

As pesquisas realizadas pelo arqueólogo no Estado são referência para o Brasil até os dias de hoje. As primeiras informações sobre as ocupações antigas de Roraima são frutos deste trabalho. “É fundamental para a história da pesquisa arqueológica brasileira, da Amazônia, o resgate dessa documentação, assim como identificação e catalogação do material deixado por Mentz Ribeiro”, destaca a arqueóloga Edithe Pereira. 

A pesquisadora coordena o trabalho financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de uma bolsa de produtividade. Segundo ela, o objetivo é recuperar e organizar todo o material documental e arqueológico resultado do Projeto Roraima, na época coordenado por Mentz Ribeiro por meio de uma parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi. 

“A arqueóloga Marta Sara Cavallini, que também é pesquisadora do projeto, esteve em Boa Vista, no Museu Integrado de Roraima, e lá descobriu uma caixa com decalques das pinturas rupestres feitas por Mentz nos anos 80. A partir daí veio a ideia de tentar reproduzir esse material, encontrar informações contidas em documentos, cadernos de campo e fotografias feitas nesse período e tentar reconstituir um pouco do que foi o Projeto Roraima”, explicou Pereira. 

Arqueólogos trabalham na organização do material coletado por Ments – JPavani

Os documentos encontrados no museu do Estado estavam desorganizados e acondicionados de maneira inapropriada. Na última etapa de campo do projeto, que ocorreu entre os meses de junho e julho, em um espaço cedido pela Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a equipe trabalhou na organização do material produzido por Mentz. 

“Em Boa Vista o trabalho está sendo feito aos poucos, já que o material não estava organizado. Pode ser até que no próximo campo encontrem mais material. Mas conseguimos reunir uma boa parte. Já digitalizamos uma série de fotografias e slides. Alguns negativos estão em São Paulo para tentar recuperar”, detalhou Pereira. 

Outra parte do material coletado em Roraima durante as pesquisas de Pedro Mentz Ribeiro estão no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, e na universidade FEEVALE, em Novo Hamburgo (RS), que tem o acervo pessoal do professor catalogado e armazenado de maneira adequada.  

Pedra Pintada é um monolito de granito de quase 2 bilhões de anos – JPavani

Segundo o que a equipe conseguiu levantar até o momento, o foco inicial do Projeto Roraima era o sítio arqueológico Pedra Pintada, que na época estava sendo vandalizado. “As pessoas estavam tirando pedaços de parede pintada. Então houve uma preocupação do Governo Federal para que fosse feita uma pesquisa no sítio, justamente devido ao risco de destruição. Mas o professor Pedro Mentz Ribeiro foi além e identificou dezenas de sítios com pinturas rupestres, sítios de enterramento, oficinas líticas”, disse Pereira.  

Na próxima etapa de campo, prevista para o início do ano que vem, a equipe fará o inventário do material arqueológico coletado. “Por enquanto só trabalhamos com o arquivo documental, ou seja, relatórios, cartas, ofícios, cadernos de campo, fotografias. Posteriormente faremos a conferência e a identificação de todo o material para poder acondicionar e deixar organizado o que for oriundo do projeto”, informou a arqueóloga. 

“O objetivo final é publicar um livro que contará a história do projeto e seus resultados. Divulgar os decalques das pinturas que nunca foram publicados. É um trabalho que conta com vários parceiros, inclusive informações colhidas com pessoas que estiveram em campo com o professor na época”, adiantou Edithe Pereira.  

Além do financiamento pelo CNPq, existe um termo de cooperação técnica com a FEEVALE de Novo Hamburgo, o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Secretaria de Cultura de Roraima para a recuperação e organização das pesquisas de Pedro Mentz Ribeiro no Estado. 

MPF recomenda melhorias na gestão do acervo do Museu Integrado de Roraima 

Pinturas rupestres identificadas por Mentz Ribeiro – JPavani

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Governo de Roraima e a Secretaria Estadual de Cultura que implementem plano de ações emergenciais para melhoria da gestão do acervo do Museu Integrado de Roraima (MIRR).  

As melhorias a serem implementadas devem seguir as orientações técnicas encaminhadas ao museu, entre 2019 e 2021, em três pareceres do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em especial, deve ser disponibilizado espaço físico adequado, específico e definitivo para abrigar o acervo do MIRR. O local deve ter infraestrutura própria de conservação, armazenamento e exposição. Como alternativa, pode ser promovida a desocupação das salas que atualmente estão ocupadas por setores da Secretaria Estadual de Agricultura, no mesmo prédio em que as peças do museu estão atualmente. 

Entre as ações a serem adotadas também estão a apresentação de laudo do Corpo de Bombeiros com resultado aprovado, realização de inventário pormenorizado de todo o acervo e confecção de protocolos para manuseio, limpeza e movimentação dos itens arqueológicos. A recomendação também orienta a contratação de arqueólogos, museólogos e outros profissionais que possibilitem a pesquisa, conservação e extroversão do acervo processo de dar visibilidade ao material. 

Decalques das pinturas rupestres feitas por Mentz nos anos 80 – JPavani

Na recomendação, o procurador da República Matheus de Andrade Bueno destaca a importância do MIRR para a formação e a preservação da rica e diversificada cultura do povo roraimense. O acervo inclui numerosos componentes de interesse cultural, social e histórico dos povos indígenas de Roraima. Há também exemplares únicos de determinados sítios arqueológicos que não puderam mais ser localizados, seja devido à identificação insatisfatória ou por eventual destruição. 

Museu Integrado de Roraima 

O Museu Integrado de Roraima foi inaugurado em 1985, no Parque Anauá, em Boa Vista. Único museu do Estado, conta com mais de 38 mil objetos, abrangendo diversas coleções de diferentes suportes museológicos. Há elementos da etnografia, botânica, zoologia, geologia, porcelanas, mobiliários, instrumentos musicais, arte sacra, artefatos de garimpo, indumentárias e acessórios, entre outros. 

Por falta de manutenção e atenção do poder público estadual, o prédio principal do museu foi desocupado e permaneceu fechado por mais de uma década. Após o período de abandono, a construção foi demolida em maio deste ano, agravando o risco de esquecimento do conjunto histórico que compõe o acervo do museu. Atualmente, as peças estão mantidas em prédio que fica nos arredores da construção antiga. 

Relatório de inspeção promovida pelo MPF e técnicos do Iphan aponta que os itens do acervo estão distribuídos por corredores e salas sem espaço adequado e estrutura física necessária à preservação e acomodação do material. Além disso, foi verificada a falta de catalogação de peças.   Os órgãos também constataram que diversas salas do complexo atual não estão integralmente à disposição do MIRR, sendo ocupadas por departamentos da Secretaria Estadual de Agricultura. Alguns dos ambientes funcionavam como depósitos, seja de galões de água vazios ou de bens aparentemente inservíveis, uso de importância inferior aos trabalhos que podem ser desenvolvidos pelo Museu Integrado. (Com informações da Assessoria de Comunicação do MPF/RR).

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