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Marlon Nícolas é o primeiro cantor autista de Roraima

Marlon Nícolas sente que o palco é o seu local de expressão – Divulgação

Carol Amorim

RORAIMA Marlon Nícolas tem 18 anos, e é um artista boa-vistense que vem crescendo no cenário musical, como promessa do pop rock. Além do talento e uma voz que impressiona – ele está dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Sua condição, ainda que erroneamente seja tratada como “leve” por muitos que desconhecem as dificuldades do autismo – ele foi diagnosticado como TEA nível 1 de suporte – compromete a socialização. Um bate-papo, conhecer uma nova pessoa, algo “simples” para muitos, gera um esforço enorme do Marlon.

Mas no palco, ele se encontra. É lá que ele se comunica bem, longe de olhares curiosos ou do preconceito. Marlon é um jovem, como qualquer outro, capaz de conquistar o que quiser.

“No palco eu consigo ficar à vontade e sinto que dessa forma não tenho dificuldades de me expressar. Cantar é para mim uma forma de me comunicar com as pessoas”, conta.

Fã de Vitor Kley e Lagum, ele busca inspiração em artistas nacionais e internacionais para as suas composições. Marlon canta músicas de artistas consagrados, como também de sua autoria. Já são cinco composições próprias.

Ele já participou de algumas apresentações em Boa Vista e até mesmo em Bonfim, quando abriu a programação do XXXI Festejo daquele município, neste ano.

Para o futuro, sonha com uma carreira profissional, que já vem sendo construída com muita dedicação e enorme talento. Também quer ser reconhecido como o primeiro cantor autista de Roraima, título que já carrega com muito orgulho.

“Quero mostrar a todos que é possível realizar os nossos sonhos, pois não há barreira para ninguém”, ressalta.

O próximo lançamento do cantor já está a todo vapor. “A letra fala sobre o autismo e é uma forma de passar uma mensagem de amor e inclusão”, diz o artista.

A primeira infância

Quando tinha 2 anos e 6 meses,  Sandira Evangelista e Mozarth Farias, pais do Marlon Nícolas, observaram um comportamento “diferente” daquele esperado para o desenvolvimento infantil. Havia atraso de fala, dificuldade de socialização e esteriotipas.

Após consultas com especialistas de Roraima, que não conseguiram descobrir o que ele tinha, partiram para Brasília, quando finalmente veio o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.

Assim como em diversas famílias, o principal desafio é conseguir um tratamento de qualidade. No caso de Marlon Nícolas, ele teve acompanhamento especializado logo após o diagnóstico, ainda criança, com uma equipe multidisciplinar. Também participou de sessões de equoterapia.

Aos 3 anos, seus pais descobriram que a música influenciava positivamente em seu desenvolvimento. “A primeira palavra dele foi papai e ele falou cantando, isso mesmo, cantando! Ele gostava de escutar músicas e foi assim que ele conseguiu soltar a voz. Aos 6 anos, no período escolar ele começou a participar do coral da escola e com 9 anos iniciou as aulas de violão e piano”, explica Sandira Evangelista.

Crianças e adultos com TEA podem apresentar diferentes níveis de suporte: 1 (precisa de pouco suporte), 2 (suporte moderado) ou 3 (necessita de muito suporte). Muitos são caracterizados pelo atraso de fala, dificuldades de socialização, necessidades de suporte em atividades diárias como tomar banho ou se vestir.

Enquanto bebês, é importante observar os sinais de alerta para que tenham o suporte necessário e tratamento adequado que incluem terapias, sem que haja prejuízo para a criança.

Ainda assim, nem sempre o diagnóstico chega cedo. É comum que adolescentes e adultos sejam diagnosticados, sem que sua condição tenha sido percebida na infância. Normalmente, são autistas nível 1 de suporte, que  passaram despercebidos. São aquelas pessoas apontadas como “tímidas demais” ou “estranhas.” Porém, em qualquer fase da vida em que ocorreu a descoberta, é preciso buscar ajuda especializada.

Uma das características dos atípicos é o hiperfoco, sendo a preferência e o grande apego por algo. Para Marlon Nícolas, a música é uma maneira de concentração e a descoberta de um dom que lhe proporciona prazer e tranquilidade.

Durante as aulas de canto, ele conheceu o produtor musical Pablo Ferreira, que veio do interior de São Paulo para investir em uma produtora em Roraima, a PBF Music. Com um trabalho consolidado no mercado há mais de 6 anos, ele realiza a assessoria de artistas locais e nacionais, com aulas de música, composições, produções musicais e divulgação do artista.

Por meio de um amigo, Ferreira começou a dar aulas de canto para Marlon. “Eu não tinha conhecimento algum sobre o autismo, não sabia como lidar, mas não vi essa condição como um problema. Até fiquei com receio de não dar conta, se iria conseguir fazer essa adaptação. Mas foi incrível! Desde as primeiras aulas, percebi o talento e a capacidade que ele tem. Um ouvido absoluto e a concentração musical que mesmo muitos profissionais da área não têm”, ressalta o o produtor musical.

A conexão imediata entre os dois possibilitou a composição do primeiro single “Não passa”, que está disponível nas plataformas digitais como Spotify, Deezzer e até mesmo um clipe musical, que pode ser encontrado no Youtube. Quem quiser saber mais sobre o cantor Marlon Nícolas, além das plataformas musicais, pode conferir o seu trabalho no Instagram (@cantormarlonnicolas).

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