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Mulheres no agro: presença feminina cresce e impulsiona setor

A engenheira agrônoma Eduarda Franco diz que presença feminina traz inteligência e boas práticas para o agronegócio – Divulgação

Cacau Bastos

RORAIMA O setor do agronegócio vem mudando ao longo dos anos. Esses novos tempos, que incluem cada vez mais o uso da tecnologia, são visíveis em todos os passos que envolvem a produção agrícola. Mas a maior virada está no crescimento da participação das mulheres em cargos de liderança, dando uma nova “roupagem” a força do agro.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ocupam 19% dos cargos de chefia no agronegócio; em outros setores produtivos, segundo indicadores da Organização das Nações Unidas (ONU), 27% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Embora ainda desproporcional, o comando de mulheres está em ascensão e deve seguir assim pelos próximos anos.

Antes de predominância masculina, elas são a nova cara do setor. Saíram dos bastidores e trabalhos apenas em escritórios, para liderar equipes e sindicatos, assumir presidências e gerências, discutir e implementar políticas de negócio, comandar pesquisas e atividades no campo, ocupando também mais vagas em cursos universitários ligados ao agronegócio.

Se em nível nacional a presença da mulher já é marcante, em Roraima, onde a produção agrícola segue a todo vapor, não é diferente. Aqui, elas comandam arrozais, produções de soja e gado, mudando o ambiente empresarial.

Conforme números da Secretaria Estadual de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi), a participação das produtoras rurais roraimenses no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), chega a 39% no programa federal, com 397 mulheres inscritas, e 42% no programa estadual, com 260 mulheres atuando. O PAA tem como principal objetivo, comprar a produção excedida do produtor rural e doar a entidades que cuidam da assistência de pessoas em vulnerabilidade alimentar.

Presença feminina é constante em eventos do agronegócio – Divulgação

Eduarda Franco, engenheira agrônoma, formada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), trabalha no Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural de Roraima, (Iater). Ela afirma que, apesar de a presença feminina sempre ter existido dentro do setor, essa participação era vista como discreta e pouco reconhecida, logo, não recebia o merecido destaque.

“Hoje, com a evolução da sociedade e a ampliação da ocupação dos espaços pelas mulheres, o agronegócio tem experimentado um crescimento nesse sentido. A boa notícia é que de uns tempos para cá, as coisas têm mudado e a presença feminina vem crescendo a cada dia. Precisamos falar mais da representatividade que ainda precisa crescer e muito”, afirma

A engenheira agrônoma acredita que, com um olhar inteligente, conhecimento e capacidade de desenvolver boas práticas para o agronegócio, a presença feminina contribui para o crescimento da agricultura e do mercado, trazendo uma visão harmônica entre biodiversidade e agricultura. “Além de sempre estarmos em busca de melhorar a capacitação profissional”, pontua.

Desde o ensino médio, Eduarda Franco, participa de eventos e cursos ligados ao setor do agronegócio, participando de feiras e congressos no Brasil e exterior. “Atualmente estou representando Roraima no maior programa de liderança do Brasil. O CNA Jovem é uma iniciativa do Sistema da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. É com grande honra e responsabilidade que represento o meu Estado, agricultores e empreendedores rurais no programa de liderança do CNA”, destaca Franco.

O Programa CNA Jovem – Jovens líderes do Agro, é voltado para a identificação, desenvolvimento e integração de novas lideranças do setor agropecuário e um dos maiores programas de liderança do agro existentes no Brasil.

Andreza Verônica é uma das três finalistas do CNA Jovem no Estado – Divulgação

Outra mulher que tem destaque no setor do agronegócio em Roraima é Andreza Verônica, de 26 anos, técnica em Agropecuária pela Escola Agrotécnica da UFRR, engenheira agrônoma pela UFRR e mestre em Fitopatologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Atualmente é professora de Ensino Básico Técnico e Tecnológico da Escola Agrotécnica da UFRR.

Andreza comemora a participação também no programa CNA Jovem. “Iniciei no ano passado [a participação no programa] e eu fui passando de fase. Estamos na última etapa, onde eu estou na lista dos 88 classificados do Brasil inteiro, sendo três mulheres de Roraima, de 2.500 jovens inscritos. Fiquei muito feliz porque não foi fácil, foi bastante corrido, muito difícil, eu sou muito grata por estar hoje aqui e poder falar sobre um pouco da importância de estar nesse trabalho”, frisa. A professora conta que sempre gostou de trabalhar na agricultura. “Também tornei-me produtora, assim como meus pais. Então já tinha uma profissão antes mesmo de me formar em técnica agropecuária, que contribuiu bastante para o desenvolvimento da nossa propriedade”, conta.

Ela explica que antes, a família tinha uma produção baseada em hortaliças. Hoje, o plantio foi ampliado com o cultivo de milho verde, feijão verde e macaxeira. “É uma pequena propriedade onde a gente trabalha a agricultura familiar, que hoje está irrigada com sistemas diferenciados. Tem toda essa questão de conhecimento técnico, principalmente pelo fato de a gente ser mais sensível”, pontua Andreza Verônica.

Geleias e molhos que temperaram a vida da produtora rural

Jacizia Costa conquistou o 1° lugar na categoria Produtora Rural, em premiação do Sebrae – Divulgação

 No dia 17 de outubro deste ano, a agricultora do município do Cantá, Jacizia Costa, levou o 1º lugar da categoria Produtora Rural, no Prêmio Sebrae Mulher de Negócio, que valoriza e incentiva o empreendedorismo feminino. É a primeira vez que a categoria Produtora Rural é incluída na premiação. “Trabalho há mais de 20 anos na produção e venda de pimenta. Hoje faço geleias, molhos, produzo sabores novos, incluo frutas amazônicas, agrado meu cliente e todos saem satisfeitos”, comemora.

Jacizia conta como vê a mudança do comportamento feminino ao longo dos anos. “A mulher antes tinha que ser só da cozinha, ela tinha que só cuidar dos filhos e parir, esse que era o nosso papel. A mulher também não votava, ela começou a votar e a lutar pelos seus direitos. E hoje graças a Deus, mulher tem que ter autonomia, tem que ter dignidade, ela tem que olhar para ela dizer assim: eu posso, por mais que ela tenha um companheiro do lado, porque nós não estamos competindo e sim nos libertando”, frisa.


Mulheres unidas ao compromisso de informar e construir elos

O Agroligadas é formado por mulheres que têm como propósito conectar o campo e a cidade – Divulgação

Há cinco anos, o movimento nacional Agroligadas, voltado às mulheres do campo, constrói um elo para mostrar à população que o agro está presente em todos os momentos da vida, além de defender a disseminação de informações confiáveis com empatia e sensibilidade.

Em Roraima, a coordenadora do núcleo Roberta Davoglio Nicaretta explica que o movimento é composto por mulheres que são ligadas direta ou indiretamente ao agronegócio e tem o objetivo de criar uma conexão entre o campo e a cidade.

“Então, quando nós ficamos sabendo sobre o movimento e desse objetivo que ele tinha, nós achamos por bem criar um núcleo estadual, para a gente somar com essas mulheres”, diz. Hoje, são vários núcleos em todo o país. Roraima conta com aproximadamente 200 mulheres, onde há divulgação de trabalhos do grupo e apoio para o desenvolvimento de ações.

O Agroligadas atua em duas frentes: comunicação e educação. Na comunicação, o movimento procura oferecer palestras com temas relevantes; já na área da educação, o grupo atua com projetos nas escolas. Em Boa Vista, o movimento chegou a trabalhar com um circuito educacional, onde foi desenvolvido um projeto mostrando os produtos e os subprodutos do animal bovino.

Outro ponto dentro do Agroligadas, é fazer com que as pessoas conheçam a verdade em relação ao agronegócio, principalmente, mostrar como as coisas acontecem em relação as questões ambiental, social e econômica.  “Hoje a multiplicação das fake news, digamos assim, é por falta de conhecimento, pelo fato de as pessoas não saberem do que se trata e acharem que aquilo é verdadeiro, então o objetivo principal, é que as crianças cresçam com esse senso crítico de poder fazer uma análise sobre a notícia que elas estão recebendo”, frisa Roberta.

Para ela, a mulher vem buscando seu espaço em todos os ramos profissionais e com o agro não é diferente. “Com muita competência e dedicação a mulher está  cada vez mais à frente dos negócios, tanto nas empresas, quanto nas fazendas, na área técnica e administrativa. É muito importante mulheres terem a decisão de apoiar outras mulheres, pois o incentivo fará com que busquem novas capacitações, adquirindo conhecimento, confiança e comprometimento em ter resultados satisfatórios”, conclui a líder local do Agroligadas.

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