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Neuber Uchôa: a paixão por música regional embalada pela damurida

Com mais de 40 anos de carreira, roraimense Neuber Uchôa é um artista premiado nacionalmente – Pablo Felippe

Cacau Bastos

“Muita pimenta malagueta, peixe e sal
Nesse cheiro de delícia no meu cantar
Paçoca com banana, abiu, tracajá
Chibé com carne seca e muito cocar” – Manias de Janeiro

De sabor forte e apimentado, seja com peixe ou carne de caça. A damurida é uma iguaria tradicionalmente indígena. Tentar explicar para alguém que nunca viu ou provou esse prato típico de Roraima, é difícil. Uns dirão que é um caldo muito apimentado, mas para quem consome e entende sua representatividade, sabe que é muito mais. É praticamente uma “conexão com a ancestralidade”.

O cantor e compositor Neuber Uchôa, que tem mais de 40 anos de carreira, revela que conheceu a damurida na década de 80, quando trabalhava numa instituição de ensino, o antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), atual EJA. Em uma das viagens ao interior, ele visitou a casa de um tuxaua, na comunidade Araçá, e ali conheceu a iguaria “Era hora do almoço e comi uma damurida de tatu”, lembra o artista.

Cantar sobre o tema regional, exaltando a cultura indígena, foi uma expressão de Neuber junto ao movimento Roraimeira, (Neuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino). “A coincidência legal é que no ano de 1984, nós três participamos de um festival, cada um com uma música com a temática regionalística e foi ali que eu comecei a fazer música com esta temática, mas antes disso eu já compunha”, explica.

De lá para cá, a damurida, ancestralidade, força, amor e tantos outros ingredientes necessários para ver a beleza da vida fazem parte do “cardápio” musical do artista, presença na noite boa-vistense e nos palcos dos principais eventos de Roraima.

Show com damurida

Já incorporada a culinária de Neuber, em 2008 foi a vez de a pimenta ganhar novos espaços, dessa vez, como estrela do álbum “Damurida”. Canções como Cruviana, Casinha de Abelha, Sol de Verão e tantas outras soam quase que como um hino de quem aprecia a cultura roraimense e esse artista consagrado.

“É um orgulho muito grande meu e dos meus filhos, a aceitação que a damurida teve, que o prato teve. Principalmente com a juventude, que era uma frequência grande na nossa casa, até hoje é sucesso. Os indígenas sabem e me têm como um aliado e assim o meu maior orgulho é esse, ter conquistado o respeito deles, e não estar como alguém que quer se aproveitar”, diz.

Hoje, distribuir a damurida antes de subir ao palco, faz parte de um ritual. “Começou ainda no início do milênio, quando eu e Eliakin Rufino, resolvemos fazer a damurida e oferecer nos shows. É uma coisa sensacional, é o mínimo que a gente pode fazer pelos nossos indígenas, é divulgar a cultura e o meio de vida deles, transformando isso num objeto turístico, que possa ajudá-los de alguma forma”, destaca o cantor, de alma leve, que declara seu amor por Roraima em suas canções.

O ardor e sabor das pimentas roraimenses

Pimentas cultivadas em Roraima possuem uma enorme diversidade de formas, cor e nível de ardência – Secom/RR

“Meu chibé com carne seca te provoca
Minha damurida queima e te ensopa
Teu café na rede, mi capitiana
Tua tez me cruviana”. – Cruviana

As pimentas têm um sabor especial, das mais fracas em ardência, às mais fortes. Possuem também qualidades vasodilatadoras, energéticas, digestivas e antioxidantes.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), durante um projeto que iniciou em 2000, foi possível encontrar cerca de 200 variedades derivadas de quatro espécies de pimenta: Capsium annum, Capsium baccatum, Capsium frutescens e Capsium Chinensis. Pimentas deste gênero, cultivadas em Roraima, possuem uma enorme diversidade de formas, cor e nível de ardência.

Neuber Uchôa afirma que as pimentas de Roraima são inigualáveis. “Murupi, olho de peixe, malagueta, kanaimé são pimentas de nível pra cima, tá entendendo? Então a pimenta de Roraima é diferenciada, sim”, destaca.

Aprenda a preparar uma deliciosa Damurida

Damurida é a estrela da culinária indígena – Divulgação

Ficou com água na boca? Aprenda a fazer uma damurida, carro-chefe da culinária indígena.

Você vai precisar de:

  • 1 quilo de peixe cru fresco ou assado
  • 1 litro de água
  • 1 litro de tucupi
  • Pimentas variadas: Murupi, malagueta, olho de peixe e Kanaimé
  • Folha de cariru ou folhas de pimenta

Modo de preparo:

  1. Em uma panela de barro, ferva a água e acrescente as folhas e pimentas inteiras, sem picar ou cortar.
  2. Na sequência, acrescente o peixe cru ou bem assado e deixe cozinhar de 4 a 12 minutos.
  3. Por último, acrescente o tucupi e desligue o fogo. Na culinária tradicional não se acrescenta sal na damurida.
  4. Sirva com o beiju e farinha.

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