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Pesquisadores encontram ocorrência de petróleo na Bacia do Tacutu, em Bonfim

Vladimir de Souza, doutor em Geologia do Petróleo, é quem lidera as pesquisas na Bacia do Tacutu

Andrezza Trajano

RORAIMA Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) encontraram indícios de petróleo na Bacia do Tacutu, em Bonfim. A descoberta pode incentivar novas pesquisas e futuras explorações, trazendo impactos positivos para a economia do Estado.

O geólogo Vladimir de Souza, doutor em Geologia do Petróleo e professor do departamento de Geologia da UFRR, é quem lidera as pesquisas. Segundo ele, foram encontrados vestígios do óleo em amostras constituídas de folhelhos negros e nos carbonatos, coletadas em profundidades superficiais de 45 metros, em 2016.

Ele explica que a Bacia do Tacutu, em alguns pontos, pode chegar a 7 km de profundidade e tem uma grande camada de sal, semelhante ao pré-sal das bacias de Santos e Campos. “É uma bacia que possui rochas geradoras com elevadíssimo teor de COT [Teor de Carbono Total], necessário para a geração de petróleo”, destaca.

De lá para cá, as pesquisas se aprofundaram e ganharam um novo patamar. Foi possível fazer a correlação entre a Bacia do Tacutu e as bacias da Guiana e Suriname. Em 2015, houve a descoberta de vastas reservas de petróleo na costa da Guiana.

Souza explica que as pesquisas quanto a informação de quantidade do óleo, são possíveis apenas com perfuração de poços a ser realizada por empresas petrolíferas, a exemplo da Petrobras. “A ANP [Agência Nacional do Petróleo] já iniciou o processo de estudos visando leiloar dois blocos para exploração de petróleo aqui na Bacia do Tacutu”, disse.

Na avaliação do pesquisador, há uma grande possibilidade do indício de petróleo encontrado em Bonfim ser comercialmente explorado. “Os níveis de geração de hidrocarbonetos na bacia do Tacutu estão muito acima do normal, o que dá ótimas possibilidades”, enfatiza. Vladimir de Souza acredita que a descoberta vai impactar profundamente a economia roraimense. “Pode mudar toda a matriz econômica do Estado, pode multiplicar o PIB e atrair investimentos de grandes empresas”, ressalta, acrescentando ser possível ainda “reescrever a história geológica da Bacia do Tacutu”. E reforça: “essa descoberta irá incentivar inúmeras pesquisas na Bacia do Tacutu e dará um grande impulso econômico para Roraima”.

Descoberta de ocorrência de petróleo foi publicada em revista internacional

Amostra de rochas encontradas na Bacia do Tacutu – Foto Marcelo Sales

O registro de indícios de petróleo na Bacia do Tacucu já consta em duas pesquisas de doutorado e mestrado, tendo sido publicada também em artigo de revista internacional, do Journal of South American Earth Sciences, em 2021.

Nesse artigo, da geóloga Raíssa Castro, ficou comprovado que existe uma ligação com o mar episodicamente, na Bacia do Tacutu, que se conectava as bacias do Suriname e Guiana. Como o petróleo só é encontrado pela decomposição de micro-organismos marinhos, principalmente as algas, é possível então reconhecer que ali foi um ambiente de mar raso, uma vez que tem a formação do óleo e também as rochas que formam o óleo, como o folhelho, e as rochas que podem armazenar o óleo, como os carbonatos e os arenitos. Por isso, é possível dizer que a descoberta de petróleo na Bacia do Tacutu reescreve a sua história geológica.

Os estudos ainda mostram que acima desse pacote tem rochas selantes, formadas por pelitos (rochas finas), o que aponta para uma possibilidade de encontrar óleo também comercial assim como está sendo explorado hoje na Guiana.

O pesquisador Vladimir de Souza explica que a formação geológica da Bacia do Tacutu é muito especial, pois existem apenas mais duas bacias com as mesmas características em nível mundial, sendo uma na Europa, mais precisamente em Portugal, e outra no continente africano. “Outro ponto positivo é que esta é uma bacia restrita, como eram as bacias da costa brasileira no passado, que são um ambiente propício à geração e conservação de grandes quantidades de hidrocarbonetos. As grandes reservas de petróleo dos Estados Unidos são deste tipo, ou seja, bacias restritas. Cabe salientar que os custos de exploração em bacias terrestres são infinitamente mais baratas do que em mar aberto”, ressalta Souza.

O “boom” da Guiana e suas reservas de petróleo

A Guiana foi o país que mais cresceu rapidamente no mundo em 2022. Para este ano, a projeção de crescimento para o PIB é de expectativa de alta de 57,8%, segundo o FMI.

A exploração de petróleo na sua costa atraiu grandes investidores internacionais, levando a uma alta no crescimento econômico. Especialistas explicam que o petróleo da Guiana é fácil de ser extraído, além de o país estar situado numa região estratégica. Fontes do setor afirmam que ocorre a extração de 500 mil barris ao dia, podendo a Guiana ultrapassar a Venezuela como maior produtor de petróleo sul-americano. Considerado um dos países mais pobres das américas, com menos de 1  milhão de habitantes, a Guiana deve arrecadar até 2025, 10 bilhões de dólares com a exploração do petróleo, segundo estimativas da presidência do país vizinho.

Considerado um dos países mais pobres das américas, com menos de 1  milhão de habitantes, a Guiana deve arrecadar até 2025, 10 bilhões de dólares com a exploração do petróleo, segundo estimativas da presidência do país vizinho.

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