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Primeiro cineasta Yanomami exibe curta no 80º Festival de Veneza, na Itália

Cineasta registrou durante 15 dias rotina dos Yanomami – Marília Senlle

Vanessa Lima

AMAZONAS O primeiro cineasta Yanomami, Morzaniel Iramari, será um dos destaques do 80º Festival de Veneza, na Itália, com o curta “Mãri-Hi – A árvore do Sonho”, que tem como protagonista uma das maiores lideranças indígenas do país, Davi Kopenawa.

A exibição do trabalho do premiado cineasta amazonense será nesta segunda-feira, 4, dentro da mostra paralela Giornate Degli Autori, que celebrará o Cinema Yanomami com o título “Eyes of the forest”.

Além da oportunidade de apresentar a sua produção internacionalmente, para Iramari este será um momento de difundir a cultura do povo Yanomami, chamar a atenção para as causas indígenas e expor as dificuldades enfrentadas pelas comunidades, que ainda sofrem com os reflexos do garimpo ilegal e a precariedade da saúde.

O significado do sonho Yanomami através do xamã é retratado – Marília Senlle

“Fico feliz em levar a história e mensagem do meu povo Yanomami para o festival. O público vai ouvir a minha fala, ver a filmagem da nossa realidade, de como vivemos. Nos conhecerão, e espero que assim possam nos apoiar. Não com dinheiro, mas fortalecendo nossas causas, divulgando os problemas que enfrentamos. As imagens são bonitas, mas por outro lado estamos sofrendo”, destacou o cineasta.

A obra cinematográfica já ganhou os prêmios de Melhor Fotografia e Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Gramado deste ano.

Também venceu o Festival É Tudo Verdade 2023 na categoria Melhor Documentário de Curta-Metragem Nacional, e está qualificado para concorrer ao Oscar na categoria Melhor Documentário em Curta-Metragem.

Morzaniel Iramari já ganhou três prêmios com obra sobre seu povo Yanomami – Marília Senlle

Yanomami nascido na comunidade Watoriki, no Amazonas, ele detalha que o curta-metragem foi inspirado no livro “A queda do céu – Palavras de um xamã Yanomami”, escrito por Davi Kopenawa e Bruce Albert. A ideia era mostrar em imagens sobre o sonho Yanomami.

“Quando as flores da árvore Mari desabrocham, surgem os sonhos. As palavras de um grande xamã conduzem uma experiência onírica através da sinergia entre cinema e sonho Yanomami, apresentando poéticas e ensinamentos dos povos da floresta”, consta na descrição do filme.

O curta-metragem foi gravado este ano na comunidade Watoriki, região do Demini, com produção da Aruac Filmes. Tem 17 minutos de duração e diálogos em Yanomami, com tradução em inglês. As imagens foram coletadas pelo cineasta por 15 dias, mostrando o dia a dia de seu povo.

Curta foi gravado este ano na comunidade Watoriki, região do Demini – Marília Senlle

“Me deram uma câmera e eu comecei a registrar a rotina na comunidade. Eu dormia, sonhava com o roteiro e no outro dia gravava os movimentos Yanomami, que não têm horário. Andava com a câmera para todo lado. [A intenção] é que as pessoas conheçam e [passem] a sentir e sonhar como o povo Yanomami”, apontou.

Este não é o primeiro trabalho do cineasta. Seus filmes anteriores, Casa dos Espíritos (2010) e Urihi Haromatimapë – Curadores da terra-floresta (2014) circularam e foram premiados em diversos festivais e mostras no Brasil e no mundo.

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