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Produção de palmito de pupunha surge como alternativa para agricultores locais

Palmito é extraído da pupunha, uma iguaria da região Amazônica – Paulo Kaminski/Embrapa Roraima

Vanessa Lima

RORAIMA A pupunha é uma palmeira nativa da região Amazônica muito conhecida por seus frutos, geralmente consumidos cozidos em água e sal. Mas a sua utilização vai além. Dela também se extrai um produto saboroso e com alto valor nutritivo: o palmito, uma alternativa de cultivo para agricultores familiares de Roraima, com foco no mercado local.

A palmeira real, o açaí, a juçara e a pupunha estão entre as espécies produtoras de palmito disponíveis. Destas, a pupunha se destaca por suas características de precocidade de corte (18 meses após o plantio), cultivo perene e perfilhamento abundante (capacidade de continuar produzindo palmito após o corte). Se manejada em condições adequadas, a palmeira pode ser explorada por pelo menos 15 anos.

Além disso, a lenta oxidação, não escurecendo rapidamente após o corte, viabiliza a venda do produto in natura. Atualmente, a indústria de alimentos concentra-se na produção de palmito em salmoura. Entretanto, o palmito de pupunha minimamente processado, ou seja, pronto para consumo, sem tratamento térmico, é uma alternativa viável e tem potencial de crescimento no mercado consumidor.

“A demanda de restaurantes, churrascarias, lanchonetes e padarias em Roraima é toda atendida com palmito em conserva vindo de outras regiões do país. O produto acaba não sendo tão nutritivo. Dessa forma, a pupunha possibilita que os produtores locais possam fornecer e ocupar esse nicho com o palmito in natura”, ressalta o pesquisador da Embrapa, Paulo Emilio Kaminski. 

Em Roraima, ele informou que em 2006 a Embrapa iniciou pesquisas com a pupunha para produção de palmito, com a implantação de um hectare da palmeira em um campo experimental, numa área de floresta de transição, no município do Cantá. Seguindo os critérios exigidos, quando a planta atingia 1,80 metro era cortada para extração do palmito, passando por avaliação para seleção das melhores palmeiras.

Pesquisador da Embrapa Roraima, Paulo Kaminski – Aliny Melo

Essa fase da pesquisa foi realizada até 2017, quando foram selecionadas as principais matrizes para a produção de palmito. Atualmente o trabalho continua, mas já com os descendentes das melhores plantas. “O nosso objetivo é mostrar para o produtor que é possível desbravar esse mercado de palmito aqui no estado”, destaca.

“Estamos em experiência com produtores rurais locais, que estão utilizando o material que selecionamos para colocar no mercado o palmito in natura. Em outras regiões do país ele já é explorado comercialmente, e queremos isso em Roraima também, dando condições para que o produtor adote a cultura do palmito, atenda a demanda local e gere emprego e renda”, frisa Kaminski.

A comercialização do palmito in natura pode virar uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto para o mercado local ou até, futuramente, para a indústria.

RR deve contar com cultivar seminal para melhoramento do palmito de pupunha

Pupunha se destaca pela precocidade de corte, cultivo perene e perfilhamento abundante – Paulo Kaminski/Embrapa Roraima

Visando à produção de genótipos mais uniformes e produtivos, a Embrapa, em 2004, iniciou a REDEPALM (Rede de Melhoramento de Pupunha para Palmito em diferentes regiões brasileiras). O objetivo do projeto em rede é disponibilizar cultivares, desenvolver genótipos e pesquisas pós-melhoramento de pupunha para palmito.

Atualmente existe uma cultivar seminal registrada, desenvolvida pela Embrapa Florestas no Paraná, chamada de BRS 411. Para o próximo ano pretende-se gerar e lançar mais cinco cultivares seminais desenvolvidas pelo projeto Redepalm nos estados do Paraná, Acre, Amapá, Amazonas e Roraima. 

Em complementação, clones deverão ser formados por cultura de tecidos a partir destas cultivares. Pesquisas pós-melhoramento serão conduzidas, bem como novas gerações de seleção a partir de novas introduções no programa. E tecnologias geradas serão transferidas por diferentes veículos. 

Como principais resultados, citam-se cultivares registradas, clones com alta capacidade embriogênica e método para propagação por perfilhos, que impactarão, a médio prazo, no aumento de produtividade de plantios de pupunha para palmito e, a longo prazo, no estabelecimento de plantios clonais altamente produtivos e uniformes.

O palmito da pupunha é saboroso e com alto valor nutritivo – Paulo Kaminski/Embrapa Roraima

Cultivar RR 1 – A pesquisa com pupunha para palmito em Roraima, iniciou em 2006 a partir do recebimento de sementes (progênies/descendentes) obtidas de 105 plantas matrizes selecionadas em plantios de pupunha no Projeto RECA de Rondônia de variedades sem espinho. 

De 2008 até 2015 essas plantas foram avaliadas para aquelas características importantes para produção de palmito, como crescimento, capacidade de perfilhamento e tamanho e peso do palmito, entre outras. Em 2015, a partir de análise dos dados, foram selecionadas as 20 melhores progênies. 

As plantas dessas 20 progênies foram manejadas para a produção de frutos e sementes. Com as sementes dessas foi instalado um novo experimento e avaliações. Além disso, sementes foram enviadas para empresas e produtores da Bahia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina para a validação do processo de seleção realizado em Roraima. 

Caso os resultados obtidos sejam similares aos observados em Roraima, esse conjunto de plantas selecionadas será registrada e lançada como Cultivar RR1, cultivar seminífera, ou seja, de polinização aberta. 

Posteriormente pretende-se selecionar as melhores e iniciar os estudos de clonagem, propagação vegetativa, bem como os estudos para selecionar plantas que produzam frutos de qualidade, que atendam ao mercado consumidor de frutos de pupunha, que é muito valorizado nos estados da região Norte do Brasil.  Assim, o projeto pode fornecer subsídios para a indústria, que tem por objetivo o palmito em conserva ou in natura; os agricultores familiares, que podem manejar os plantios para produção de palmito in natura e frutos; e aos consumidores locais, que podem ter acesso a um produto diferenciado, de qualidade, saudável e a um preço mais acessível. (Com informações da Assessoria de Comunicação da Embrapa Roraima.

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