Pular para o conteúdo

Produtores indígenas: A lucratividade dentro da agricultura coletiva

A farinha de mandioca é presença certa na maioria das mesas brasileiras – Secom/RR

Cacau Bastos

RORAIMA Tradicionalmente na cultura indígena, o cultivo de diversos alimentos é feito apenas para o consumo. Mas, o que vemos atualmente, é uma profunda mudança nesta estrutura, com a agricultura de subsistência dando espaço ao empreendedorismo, com produção em larga escala, no que vem sendo chamado de “agro indígena”.

Aos poucos, novas comunidades veem em suas produções uma oportunidade de negócios. Plantações de milho, soja, feijão, batata-doce, mandioca, pimenta, banana, melancia, além das hortaliças, são algumas que, a cada ano, crescem em escala comercial.

Na zona rural de Boa Vista, temos exemplo desse novo modelo de organização. Às margens da BR-174, no Projeto de Assentamento Nova Amazônia, km 30, o indígena Fábio Marques Aguiar é criador e coordenador do grupo Aurora do Campo, que reúne produtores Macuxi e Wapichana.

Aguiar, que antes trabalhava na capital, largou o emprego e resolveu cuidar do sítio que tinha no PA Nova Amazônia. “Quando cheguei aqui, percebi que a dificuldade de trabalhar era muito grande, aí eu criei esse grupo com 22 produtores indígenas, porque temos a cultura de trabalhar no coletivo”, explica.

Atualmente, a Prefeitura de Boa Vista, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e Assuntos Indígenas (Smaai), apoia 18 comunidades indígenas, localizadas na região do Murupu e Baixo São Marcos e mais o grupo Aurora do Campo, no PA Nova Amazônia, segundo o titular da pasta, Guilherme Adjuto. 

“Atendemos as comunidades indígenas desde a vacinação do rebanho contra a febre aftosa, o apoio no plantio, transporte e comercialização dessa produção também. Tanto no inverno, com os grãos como milho e feijão, como no verão, com a pimenta e outros cultivos”, conta Adjuto.

Inicialmente, foi montada uma lavoura de macaxeira de quatro hectares para a produção de farinha, onde além de servir para consumo próprio, o excedente é comercializado dentro da comunidade, para os demais produtores da região.

“O grupo Aurora do Campo é uma comunidade que vem para quebrar o tabu. Ele mostra para todo mundo que o indígena pode sim ser produtor, o indígena pode sim ser um microempreendedor, muitos falam que o indígena é preguiçoso, mas nós estamos aqui para provar que não”, reforça Fábio Aguiar.

Ele garante que hoje tem tudo o que precisa para viver bem. “Tenho tudo o que preciso, se eu quiser comer uma comida bem temperada, vou na lavoura e faço a colheita da abóbora, do feijão, do feijão de metro e também do cheiro verde”, detalha o produtor indígena.

Jiquitaia, a produção artesanal da pimenta em pó

A pimenta pilada, uma tradição indígena que ganhou o gosto popular – PMBV/SEMUC

Consumir a pimenta em forma de molho é muito comum, mas você já provou uma pimenta em pó? A jiquitaia, bastante conhecida aqui na região Norte, dispensa apresentação, mas é sempre muito bom falar dela. Depois de colhida, é cortada e acomodada para secar ao sol. Em seguida é moída, até virar um pó, que realça sabores e mantém a ardência da pimenta. Uma delícia!

O projeto Tay Tay, que na língua Macuxi, significa Curupira – uma alusão ao personagem folclórico guardião da floresta e que aprecia a pimenta- é desenvolvido por 12 mulheres indígenas da comunidade Aurora do Campo. Elas trabalham com o plantio das pimentas, colheita e a transformação em jiquitaia, lançando anualmente uma nova variedade de pimenta em pó.

Em um espaço de aproximadamente 1 hectare, elas cultivam as pimentas olho de peixe, murupi, kanaimé, malagueta e carolina reaper. As pimentas Tay tay, são montadas em um kit e vendidas a R$ 60,00, cada. O principal ponto de vendas fica na Feira de São Francisco, em Boa Vista.

As políticas de assistência para os pequenos produtores rurais

Comunidade dos produtores rurais indígenas é referência de união e força – PMBV/SEMUC

O secretário da Smaai, Guilherme Adjuto, informa que a principal política que a pasta exerce na capital, é o Plano Municipal de Desenvolvimento da Agricultura (PMDA), um programa que funciona desde o ano de 2018, fazendo o custeio da produção agrícola, tanto para a cultura de inverno, que é focada em grãos, como a cultura de verão, que compreende os hortifrútis, culturas irrigadas. Então, o produtor pode acessar o programa, tanto no primeiro, como no segundo semestre.

O PMDA oferta os insumos como o calcário, até a semente do que se vai plantar. ‘É um programa que tem o subsídio da Prefeitura de Boa Vista em até 50% do que foi retirado da secretaria. Prazo estendido para que o pequeno produtor consiga plantar, colher, comercializar e aí sim fazer o acerto com a prefeitura”, explica o titular da pasta.

Para participar do programa, o produtor precisa do documento de Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), a (DAP), e estar filiado a uma cooperativa ligada à agricultura familiar.

Ainda segundo Adjuto, para os agricultores indígenas, não há custo. Eles entram num programa de melhoria de qualidade alimentar e desenvolvimento das comunidades indígenas.

“A Prefeitura de Boa Vista também dá o apoio com as máquinas e implementos agrícolas, para poder fazer a abertura de área, aplicação de calcário, plantio, colheita, e transporte de produção. Por meio da linha amarela de máquinas, ela abre novas áreas, fazendo a supressão de árvores, escava tanques para piscicultura e para irrigação também e faz ainda melhoria das ruas para acesso às propriedades”, informa o secretário de Agricultura.

Objetivo do projeto Tay Tay é lançar uma nova variedade de pimenta em pó por ano – PMBV/SEMUC

+ Notícias Recentes

Publicidade