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Sítio arqueológico em Roraima é um dos mais importantes da Amazônia

Petroglifo encontrado no Arara Vermelha, em São LuizJorge Macêdo

Vanessa Lima

RORAIMA Rochas com gravuras rupestres identificadas por arqueólogos em uma propriedade privada em São Luiz, a sudeste de Roraima, podem contribuir com evidências dos mais antigos períodos de ocupação humana na Amazônia.  

O sítio arqueológico Arara Vermelha, localizado a cerca de 27 km da sede do município, é conhecido pelos pesquisadores desde 2005. O abrigo rochoso, na sua parte interna, tem dimensões limitadas, medindo cerca de 16 m2, e possui uma parede densamente gravada com figuras. 

Além disso, nos arredores do sítio arqueológico, os pesquisadores identificaram pelo menos 37 rochas com gravuras, um amplo território que pode ter sido marcado pelo homem com gravuras ao longo de séculos.  

Os resultados de investigações realizadas durante duas etapas de campo, em 2008 e 2014, apesar de introdutórios, apontam para um período de ocupação do sítio a partir do início do Holoceno médio (9.000 anos AP – 4.000 anos AP), atual época geológica que começou há 11,7 mil anos com o fim da última era glacial. 

Registros da equipe durante pesquisa de campo realizada em 2019, no Arara Vermelha – Jorge Macêdo

A arqueóloga Marta Sara Cavallini participou das investigações iniciais das gravuras, e destaca que a hipótese, ainda a ser verificada a partir dos dados coletados, é que a prática da arte rupestre identificada no Arara Vermelha possa ser tão antiga quanto o processo de povoamento das Américas e da Amazônia. 

“É uma arte diversa, complexa, e antiga, que apresenta muitas superposições de épocas distintas, indicando que o sítio foi usado por muito tempo e possivelmente para diversos propósitos, com diversas funções nas distintas fases de uso”, explica, ao citar detalhes alcançados por meio dos estudos iniciais coordenados pelo professor e também arqueólogo, Raoni Valle. 

Por se tratar de um abrigo e não de um sítio a céu aberto, contexto raro no panorama dos estudos de arte rupestre amazônica, Cavallini pontua que o sítio arqueológico em Roraima tem um alto potencial de investigação para estabelecer relações cronológicas entre o processo de formação natural do abrigo, de ocupação humana e de produção da arte rupestre. 

Acampamento dos pesquisadores – Jorge Macêdo

“Poucos sítios rupestres conhecidos na Amazônia foram objeto de um estudo contextual e são raros os casos de datação da arte rupestre. Isto porque a maioria está a céu aberto ou na beira dos rios, submergidos durante todo o período das enchentes. Esse elemento dificulta a datação dos registros rupestres por associação com camadas arqueológicas datáveis, assim como a preservação dos contextos e dos materiais eventualmente correlacionáveis às gravuras”, detalha a pesquisadora.  

Segundo ela, sítios localizados em abrigos rochosos, em áreas de terra firme, como é o caso do Arara Vermelha, proporcionam contextos sedimentares mais preservados e datáveis, associados com a arte rupestre, por isso sua importância para decifrar parte da história. 

Das duas pesquisas sistemáticas realizadas no sítio arqueológico, a primeira, que levou ao inicial levantamento dos grafismos e ao mapeamento topográfico do abrigo, se desenvolveu no âmbito de um projeto de doutorado do arqueólogo Raoni Valle, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). 

A segunda, organizada por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos da USP (Arqueotrop), levou ao primeiro teste estratigráfico do abrigo e à produção de uma preliminar cronologia de ocupação. 

Pesquisadores no interior do abrigo – Jorge Macêdo

A terceira etapa de levantamentos de campo ocorreu em maio de 2019, no âmbito do projeto de doutorado da arqueóloga Marta Sara Cavallini pelo programa de Pós-Graduação em Arqueologia da USP. A pesquisa segue em andamento com o apoio científico e logístico do Museu da Amazônia (MUSA) e do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. 

A previsão da pesquisadora é iniciar uma quarta etapa de campo no Arara Vermelha em janeiro de 2024, a fim de contextualizar o fenômeno da arte rupestre regional no panorama crono-cultural amazônico. Estima-se que o número de gravuras identificadas no local possa aumentar. 

“Os objetivos compreendem, portanto, a identificação e interpretação do processo de formação do sítio, o refinamento da cronologia de ocupação do local e, no específico, a datação indireta e/ou direta de um ou mais momentos de produção dos petróglifos, que serão objeto de um registro completo e de uma análise preliminar”, adianta Cavallini.  

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